domingo, 5 de junho de 2016

Poetas de Karaoke

Ainda aí estou, em ti?
Ainda me sentes perto, embora longe?
Ainda me vês em ti?
Ainda sentes que as minhas palavras poderiam ser também tuas?
Ainda fazes contas ao tempo para, logo a seguir, chegares à conclusão de que as contas ao tempo são irrelevantes para justificar o que sentimos por alguém?
Ainda te perguntas o que foi que nos juntou daquela forma intrínseca, tão imediata, como se, ali, despidos na alma, fôssemos pele e corpo e coração um do outro?
Ainda tens medo? Medo de que o tempo imortalize as sobras do que fomos? Medo de que as sobras, estes resquícios de nós, por mais pequenos e ínfimos, sejam suficientes para que nunca esqueças?
Ainda vivo em ti, como tu em mim?
Escondes-te? Tal como eu, diz-me: escondes-te, evitas-me?
Não aqui. Não aqui, nesta vida de corpos e de afazeres. Aí. Sim, aí, dentro do peito, onde aperta, onde corrói, onde angustia. Aí, dentro, onde é calor, agonia, paixão e descontentamento. Aí, onde é querer tanto.
Diz-me: aí, exatamente aí, escondes-te e evitas-me? Tal como eu me escondo e te evito aqui? Aí, dentro, ainda pedes que não aperte, que não corroa, que não angustie? Aí, dentro, nem que seja por segundos, ainda ardes por mim? Ainda me queres abraçar?
E, quando o mundo te conta histórias — histórias doces que aquecem, histórias felizes que fazem querer voar sobre o mundo —, é da nossa que te recordas? É o meu nome que murmuras baixinho, em segredo? São, essas, histórias onde poderíamos ainda caber os dois?
Ainda aí estou, contigo? Aí, em ti? Aí, onde ainda sonhas?
Aqui, tu ainda estás.
Aqui, dentro do peito, onde aperta, onde corrói, onde angustia.
Aqui, dentro do peito, bem dentro, onde é calor e querer ainda tanto.
Aqui, dentro do peito, tão dentro, onde é silêncio duro e saudade.
Aqui, no mais fundo de mim, tu ainda estás.
Olha-me, por favor. Uma última vez.
E responde-me: Ainda aí estou, em ti?

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